13 de October de 2023
Escravocratamente Supremo
Por Normando Rodrigues
Perto de 400 mil brasileiros podem ser listados como milionários. É mais ou menos a quantidade de viventes em Montes Claros (MG).
Somados somente os ganhos mensais dos 400 mil riquinhos (menos de 0,2% da população) a quantia bastaria para distribuir um salário mínimo por cabeça a 200 milhões de brasileiros.
No topo daqueles 400, os 51 mais ricos acumulam um patrimônio superior a 800 bilhões de reais, quantia maior do que o PIB do estado do Rio de Janeiro, no qual residem mais de 16 milhões de habitantes.
São 51 pessoas com o mesmo que produzem 16 milhões de outros.
Sacerdotes do Deus Mercado e seus limitados apóstolos meritocráticos repetem à exaustão que bilionários geram a si mesmos, via dedicação e trabalho duro.
No entanto, a maioria dos “51” apenas herdou o capital que administra. Mais de 60% da renda do grupo vem de dividendos. São rentistas parasitários que se beneficiam não só do trabalho alheio como dos investimentos de acionistas pequenos e trouxas.
Mas, olhando bem de perto, de que é feita a renda dos “51”?
Bilionários são feitos de prostituição. A existência de cada um deles depende da venda dos corpos de meio milhão de meninas e meninos, país afora, dado que vale a pena ser lembrado no “Dia da Criança”!
Os “51” são feitos também de fome, monstro que ainda flagela mais de 21 milhões de brasileiros.
São feitos ainda de mortes. Umas 50 mil mortes violentas por ano, a enorme maioria de pretos e pobres, mortos por outros pretos e pobres ou, crescentemente, por não tão pobres e não tão pretos vestidos de policiais. É fundamental para a riqueza dos “51” que os pobres se matem. Preferencialmente sem matar médicos brancos.
Não podemos esquecer do trabalho. Os “51” são fruto do desemprego, do subemprego, do pós-emprego, da neoescravidão geral e da remuneração irrisória em particular.
Para garantir essa incrível rede de lucros, não bastam balas, granadas e gases. É preciso convencer a todos que devem fingir viver e aceitar morrer, em nome da glória dos “51”.
Entram então a TV, a Internet, os pa$tore$, os fascistas e uma categoria especialmente importante, os juízes.
Juízes cíveis, de sucessões, de fazenda e de falência, contribuem muitíssimo para o patrimônio dos “51”. Os criminais, mais ainda. Os trabalhistas, contudo, seriam insuperáveis nessa tarefa, não fosse o Supremo.
Legitimado por seu tardio combate ao fascismo (após longo concubinato, do qual saiu com as cadeiras quebradas) o STF ultrapassou a Justiça do Trabalho numa série de decisões consagradoras da escravidão contemporânea.
Escravocratamente supremo.
P.S. Para os curiosos: as fontes dos números são a Receita Federal, UNICEF-ONU, FAO-ONU e o IPEA.
Ah! E também aquela pornográfica revista de jurisprudência muito popular entre juízes, a “Forbes”.