Normando Rodrigues Advogados

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6 de March de 2024

FREUD EXPLICA

Por: Normando Rodrigues

Por Ana Maria Rosinha

A violência contra a mulher tem contornos múltiplos que muitas vezes escapam à observação menos detida.

Quando falamos de violência, não estamos falando da mera violência física, embora o adjetivo “mera” não seja exatamente apropriado. A violência física mata, aleija, tortura e, no caso brasileiro, assume proporções absurdas. Nos últimos anos, como levantado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um salto de 14,9% nos casos de estupro e 2,6% nos feminicídios.

Essa violência é palpável e a vemos todos os dias, sem que consigamos romper com esse estado de coisas.

Por outro lado, a violência econômica também conhecemos bem. É fato notório que as mulheres, exercendo a mesma função que os homens ganham salários menores. Mulheres também ascendem menos nas carreiras, seja no serviço público, seja nas empresas privadas.

Mas há outras formas de violência menos debatidas e que são hoje, inclusive, tipificadas como crime: causar dano emocional à mulher de modo a prejudicar e perturbar seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que gere prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação.

A despeito da tipificação como crime, a violência psicológica nunca mereceu da sociedade, a devida reflexão. É corriqueiro ver-se a desqualificação da mulher em situações cotidianas sem que sequer se destaque a gravidade dessa conduta.

Qual mulher, por exemplo, estando acompanhada por um homem numa mesa de restaurante, nunca foi ignorada pelo garçom com as perguntas sobre a refeição e a conta sendo feitas exclusivamente a ele? Qual mulher nunca foi ignorada no atendimento ao público, em geral, dos dois lados do balcão?

Exemplo claro dessa violência que desqualifica a mulher foi o tratamento dado pela mídia brasileira à Presidenta Dilma Roussef durante seu mandato e mesmo agora, quando ocupa o cargo de Presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como “Banco dos Brics”.

Dilma foi ridicularizada pelos colunistas de O Globo, Folha e Estadão ao usar “cultura da mandioca”, termo cunhado pelo laureado Luís da Câmara Cascudo. Foi achincalhada ao mencionar a “estocagem de vento”, apesar de apontar que a ideia, hoje já em uso, vinha de sólido artigo na reputada “Scientific American”. E sofreu ignóbil deboche ao propor a tipificação penal do “feminicídio”.

O ridículo, o achincalhe, o deboche foram naturalizados por Dilma ser mulher. Como qualquer uma de nós.

Freud explica.

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