27 de September de 2024
Em 28 de setembro de 1932 nascia numa humilde família de lavradores Víctor Lidio Jara Martínez, um dos principais nomes do movimento “Nova canção chilena”, criado por Violeta Parra (incentivadora de Víctor Jara) e integrado, entre muitos outros, pelos grupos Quilapayún e Inti Illimani (por sua vez inspirados pelo próprio Jara).
A “nova canção” tratava de dar sentido político e social às músicas, rompendo com as tradições sem significado maior, limitadas às insossas descrições da natureza ou de fúteis dores amorosas.
Os primeiros sucessos musicais de Jara incluíram “Paloma quiero contarte”, canção de amor que trata também do sentido coletivo da vida (estar sempre voltado para fora, para se cuidar por dentro); e “La canción del minero” (vou, venho, subo, baixo, tudo para que? Nada para mim – mineiro sou, à mina vou, à morte vou – tudo para o patrão, nada para a dor).
Seguiu-se uma intensa produção musical, que além de muitas outras canções de impacto incluiu “Te recuerdo Amanda” (homenagem ao pai, Manuel, e à mãe, tendo por pano de fundo um acidente de trabalho), “El derecho de vivir em paz” (sobre a guerra imperialista dos EUA no Vietnã) e “Plegaria a um labrador” (uma espécie de versão do “Pai nosso” com consciência de classe).
Além de diretor e professor de teatro, Jara foi um importante divulgador da coalização “Unidade Popular”, que levou à presidência o médico Salvador Allende, em setembro de 1970.
Três anos depois, os EUA resolveram que não poderiam deixar o Chile se desenvolver e distribuir renda, e fomentaram o Golpe de Estado de 1973, a verdadeira tragédia do 11 de setembro.
Allende foi assassinado dentro do palácio presidencial de La Moneda, e Jara, assim como dezenas de milhares de outros, foi preso, brutalmente torturado e morto. Tudo para que o Chile se tornasse o laboratório neoliberal de Friederich von Hayek e Milton Friedman.
O “sucesso econômico” do concubinato neoliberal-fascista no Chile de Pinochet, fez o peso da indústria no PIB do país cair de 25% para 10% e a desigualdade social disparou.
Em sua hora final, Víctor Jara foi desafiado por seus algozes a cantar suas canções “comunistas” e o fez, tocando seu violão. Os “bolsonaros” então lhe esmagaram as mãos e voltaram a fazer o desafio. E Víctor Jara, mãos esmagadas e sangrando, se pôs de pé e cantou “Venceremos!”, o hino da frente de esquerda que elegera Allende.
Se os “Bolsonaros” chilenos não deixaram Víctor Jara envelhecer, o capitalismo e sua inseparável injustiça social não deixam suas músicas envelhecerem.