Agora a luta é pela jornada justa!
Carlos Eduardo Pimenta*
A iminente aprovação da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil será uma vitória inegável para a classe trabalhadora. É um alívio financeiro significativo para milhões de brasileiros, colocando mais dinheiro no bolso para movimentar a economia e melhorar a qualidade de vida. Embora seja um motivo para comemoração a classe trabalhadora não pode deixar de continuar na luta por mais direitos.
A revisão das jornadas de trabalho exaustivas que há anos corroem a saúde física e mental dos empregados é uma bandeira de luta que une a todos os trabalhadores.
Não podemos nos iludir: o ganho na isenção do IR pode ser rapidamente neutralizado pelos custos de saúde e pelo esgotamento causados por modelos de trabalho obsoletos e predatórios. A batalha agora é contra a escala 6×1, um regime que impede o descanso adequado e o convívio familiar, transformando a folga semanal em mera recuperação do cansaço acumulado.
É inadmissível que com toda a tecnologia disponível, a qualidade de vida seja sacrificada em nome de uma produtividade que se prova insustentável a longo prazo. As jornadas menores, como a 4×3 ou 5×2, elevam a satisfação, reduzem o burnout e, surpreendentemente, mantêm ou até aumentam a produtividade devido ao maior engajamento e foco dos empregados descansados.
A economia brasileira precisa abraçar essa modernidade.
Abismo offshore: isonomia urgente
A pressão deve ser ainda mais intensa no offshore, onde as jornadas são levadas ao extremo. A escala de 14×21 é um avanço, mas é hora de estender essa conquista para todos os trabalhadores do regime offshore. A isonomia deve prevalecer, garantindo que todos os profissionais tenham o mesmo direito a um período de descompressão digno. A diferença de folga impõe uma desigualdade que é, no mínimo, cruel.
A segurança operacional e o bem-estar dos trabalhadores andam de mãos dadas; negligenciar um é colocar o outro em risco. Um profissional esgotado é um risco para si e para toda a plataforma, a folga adequada não é um luxo, é uma medida de saúde e segurança.
Os trabalhadores precisam usar a sua força para exigir o que é fundamental: condições de trabalho humanizadas. O fim da escala 6×1 generalizada e a universalização do 14×21 no offshore são pautas de dignidade que refletem uma evolução necessária na nossa legislação trabalhista.
Temos a chance de transformar o ganho financeiro em ganho de tempo, saúde e vida. A luta por um salário justo se completa com a luta por um tempo de viver justo, é preciso realizar a defesa intransigente de um modelo de trabalho que respeite a vida. A qualidade do tempo de trabalho é tão importante quanto a remuneração por ele. O próximo passo é garantir que o trabalhador brasileiro não seja apenas um produtor, mas um cidadão com tempo para sua família, seus hobbies, sua saúde e sua participação plena na sociedade.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. carlos@nrodrigues.adv.br