2 de June de 2023
No luminoso último parágrafo dos “Manuscritos econômico-filosóficos” de 1844, Marx sentenciou que só se pode “trocar amor por amor, confiança por confiança”.
Essa lembrança é ainda oportuna para organizações e militantes da esquerda que, a partir de leituras messiânicas e anacrônicas de antigos manuais, se tornam incapazes de interpretar e agir sobre a realidade e, sobretudo, se desumanizam.
Em “Buongiorno, notte” Marco Bellochio nos apresenta a superação dessa desumanização com a lembrança do traumatizante sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro democrata-cristão Aldo Moro, em 1978, tragédia narrada a partir dos olhos de uma das sequestradoras, a fictícia militante Chiara.
Diferentemente do homônimo brasileiro (o juiz suspeito e dublê de senador fascista), o Moro italiano foi o articulador do chamado “Compromisso Histórico”, juntamente com o líder do Partido Comunista Italiano Enrico Berlinguer, pacto valorizador do pluralismo político.
Bellocchio, que já dirigira um documentário sobre o caso em 1995, refilmou a história em 2022, num longuíssimo de 5 horas de duração, adaptado a minissérie de 6 episódios (“Esterno Notte”).
O filme de 2003, entretanto, é insuperável graças às atuações premiadas e ao seu final doce, contrafactual e, acima de tudo, humano.
Fica a dica!