26 de June de 2023
Paulo Freire foi ganhador do prêmio “Educação para a Paz” da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, e tem seu nome inscrito no rol internacional da fama para a educação de adultos e continuada.
Meio século antes de o fascismo ter instituído a idiocracia valorizadora da ignorância orgulhosa no Brasil, foi publicado aquele que talvez seja o mais importante livro de Freire, a “Pedagogia do Oprimido”.
Além das muitas sínteses disponíveis, que bem posicionam a educação como processo necessariamente amoroso e somente possível a partir da empatia, a obra nos oferta uma emblemática máxima:
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
Em tempos de recortes mais do que limitados, obscurantistas, vale a reflexão ali embutida: se o educador é incapaz de esclarecer ao educando a opressão e a injustiça em que vivem; se o ato de educar não significar uma tomada de consciência a respeito da violência reinante, por meio da qual o oprimido é mantido “em seu lugar”; a educação é apenas uma farsa destinada a legitimar a dominação de muitos por poucos.
O resultado dessa farsa é a produção de graduados, mestres e doutores que essencialmente não passam de analfabetos funcionais. Tragédia maior, se egressos da classe social cotidianamente chicoteada, o educando assim deformado passa a desejar ser aquele que chicoteia, em lugar de denunciar o chicoteamento.
Por exemplo, das faculdades de economia saem tipos como Silvinei Vasques, que legitimado pelo distintivo da PRF cometeu desde o espancamento de frentistas até o cerceamento de eleitores de Lula no dia da votação. Ou como Bob Fields Terceiro, que acredita serem, as crianças pedintes nos sinais, novos empresários porque podem receber no Pix.
A mesma fórmula produz, nas irresponsavelmente autônomas academias militares, oficiais comprometidos com o fascismo e amantes da corrupção ditatorial, incluídos os que tentaram o golpe de 8 de janeiro e os que somente não o fizeram com receio da condenação dos EUA, a verdadeira pátria desses energúmenos.
A medicina contribui com suas capitãs cloroquina e assassinos travestidos de médicos que pregam a eliminação hospitalar dos que não “pensam” igual.
E, claro, o direito molda os Misters Moros da vida, em cujas teses de doutorado não passa um parágrafo sem agressão à última flor do lácio.
Se a pretensão da sociedade brasileira é ser uma sociedade, a deseducação do ensino superior deve ser enfrentada. Democraticamente, mas com firmeza.
Caso contrário, a idiocracia voltará ao poder ali na esquina, calcada na massa de ignorantes ressentidos que fascina.