17 de January de 2023
O eterno conflito capital x trabalho é travado em diversas frentes. Dentre elas temos em curso uma disputa semântica, tão importante quanto as outras. Não se trata apenas de uma discussão puramente acadêmica, a contestação dos significados “impostos” pelo capital acarreta efeitos práticos que atuam diretamente nos processos de dominação social.
A luta de classes não abrange somente as relações sociais e econômicas, ela se desenvolve também, e principalmente, no plano ideológico, na produção de sentidos e na consciência do indivíduo!
É constante no capital a tentativa de destituir conquistas históricas dos trabalhadores. Nada é tão simbólico para desprezar e nivelar por baixo estas conquistas quanto a substituição de termos e nomenclaturas. Emplacar que, trabalhadores não são empregados, mas sim “colaboradores”, transformando falsamente uma relação de subordinação (vertical) em uma relação de colaboração (horizontal) é, na prática, amenizar o antagonismo e a tensão que causam os conflitos geradores de avanços nas bandeiras defendidas pelos trabalhadores, como a busca por melhores condições de trabalho, salários mais justos, etc.
Ao justificar que seu empregado é um “colaborador”, o empregador passa intencionalmente a falsa impressão de que o ambiente colaborativo valoriza o desempenho individual e incute um sentimento empreendedor e insubstituível para o empregador. Ou seja, o velho discurso da meritocracia, que beira o ridículo e alimenta perfis de pseudodetentores do capital, iludidos em redes sociais corporativas, manuais de “boas práticas” de gestores e até documentos de alguns tribunais na Justiça do Trabalho.
Essa mudança de termos não é aleatória, muito menos fruto de uma evolução nas relações de trabalho. É, em verdade, mais um instrumento para fortalecimento de um discurso ideológico. O capital é muito hábil em introduzir e produzir sentidos, não é raro ouvir indivíduos que adotam naturalmente o termo “colaborador” e que até se sentem ofendidos quando chamados de trabalhador.
Não é preciso muito esforço para entender a intenção alienante do empregador ao defender e estimular o uso do termo “colaborador”, fantasiando uma ausência de subordinação, ocultando do trabalhador sua verdadeira condição e distinguindo a sua situação da de seus iguais, enfraquecendo o sentimento de pertencimento a uma mesma classe social e ferindo de morte a atividade sindical.
Entender que “trabalhador é trabalhador” é essencial na consciência e na luta de classes. Parafraseando o professor Márcio Túlio Viana, “tal como os anticorpos que nos protegem, a consciência e a luta se enfraquecem a cada ataque não resistido”.