Normando Rodrigues Advogados

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10 de August de 2023

Tragédia e Farsa

Por: Normando Rodrigues

Dizem que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

 

No caso do Rio de Janeiro, da necropolítica contra crianças pretas, a história não se cansa de repetir tragédia e farsa. A tragédia do assassinato cruel dos sonhos dos meninos e a farsa de imputar a essas crianças pretas a “responsabilidade” por suas próprias mortes.

 

E essa história se repete infinitamente em um estranho “looping” que embrutece; que anestesia as pessoas ao torná-las incapazes de ter compaixão com aquelas pobres crianças que perderam o amigo e choravam…

 

Um submarino com milionários aventureiros mobiliza países inteiros. Navios com imigrantes pobres não. Morre alguma personalidade e a mídia hegemônica fica dias se condoendo e movimentando a compaixão de todos.

Mas a polícia assassina um menino preto…

 

A dor de meninos pretos, mãe preta, família preta, vizinhos pretos… todos pobres… isso não mobiliza, não move a compaixão da sociedade. Ao invés, ela trata de lançar sobre a vítima, um menino de 13 anos, a pecha de traficante para esconder a responsabilidade do estado e de todos aqueles que continuam a alimentar essa guerra enlouquecida contra o tráfico.

 

A hipocrisia, a falta de caráter da polícia, do estado, da mídia alimentam essa máquina de moer carne de crianças pretas. Agora não se trata apenas de matar os sonhos dos meninos com a exclusão econômica, mas de matar fisicamente. O que mais resta?

 

Resta a dor no olhar do amigo ao observar o enterro de Thiago. Aquele olhar de estupefação misturado com dor e, talvez, medo de ser a próxima vítima de alguma bala, perdida ou não. Porque, no fundo, ele sabe que é só mais um menino preto numa sociedade que trata meninos pretos como inimigos.

 

E a tragédia continua presente na morte diária dos sonhos dos meninos pretos. A farsa continua na “guerra” contra os inimigos forjados do tráfico. E assim, tragédia e farsa se complementam na infinita repetição dessa história de terror, como mais mortes absurdas, que certamente virão.

 

Thiago(s) presente(s)!

 

Foto: @selmasouzaphotos / @vozdascomunidades

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